Como um aspirante a pesquisador, pretendo divulgar brevemente o que eu faço em meu laboratório, qual o meu alvo de estudo e para que ele serve (essa última pergunta geralmente irrita muito os pesquisadores; o avanço do conhecimento já não seria razão suficiente?). A grande verdade é que quase todo pesquisador adora falar sobre o seu trabalho, e eu não sou exceção.

Nas células cujo DNA está em um compartimento chamado núcleo (células eucariontes), existe um grupo de proteínas constatemente interagindo e dobrando o DNA. Essas proteínas chamam-se Grupo de Alta Mobilidade (ou HMG, do inglês High Mobility Group). A proteína que estudo chama-se HMGB1 (é, a ciência é cheia de símbolos esquisitos mesmo). Esta proteína é capaz de dobrar o DNA em um ângulo de até 80º, aumentando a afinidade de outras proteínas com o material genético, podendo aumentar a transcrição, por exemplo. Por isso, a HMGB1 pode ser chamada de fator de transcrição.
A HMGB1 funciona de maneira oposta a um grupo de proteínas muito famoso chamado histonas - cuja função é, entre outras, compactar do DNA dentro do núcleo. Ocorre uma batalha infinita, no qual uma aperta a molécula de DNA, enquanto a outra a separa, tornando-a "frouxa" e possível de ser transcrita. Até o ano de 1999 era mais ou menos isso que se sabia sobre essa proteína. Então, um pesquisador chamado Wang descobriu que essa proteína podia ser "expulsa" para fora da célula, funcionando como uma molécula sinalizadora (citocina). A idéia é a seguinte: Se você encontrar uma proteína que só ocorre no núcleo das células fora delas, quer dizer que algo não está legal; as células podem estar morrendo, fazendo a HMGB1 "vazar" para o sangue. Isso sinaliza para as células do nosso sistema imunológico que algo está matando as células, e essa matança indica que pode estar havendo uma inflamação. A partir dessa descoberta, essa proteína ganhou mais importância - já que ela está envolvida em diversas doenças humanas - e já estão desenvolvendo inibidores de HMGB1 para o tratamento de algumas doenças.
Mas e eu? Dentro desse vasto mundo, o que eu faço? A ciência é construída a partir de pequenos avanços de inúmeras pessoas, ao contrário da idéia de que alguns gênios é que dão passos largos (isso ocorre, mas é bem raro). O que eu faço é estudar os aspectos termodinâmicos e estruturais dessa proteína frente a alguns fatores, como temperatura, pH, uréia e outros. Pretendo me voltar um pouco para a parte biológica (já que serei biólogo ano que vem!) dessa proteína, como o papel dela nas infecções virais e em uma doença grave chamada sepsis.
Nossa, como ficou grande! E eu tentei resumir ao máximo! Na próxima postagem, começarei a adentrar no mundo do Macro do nosso belo e intrigante Universo!
Grande Abraço!
Bibliografia:
- Wang et. al. (1999). HMG-1 as a Late Mediator of Endotoxin Lethality in Mice.
- Agresti et. al. (2003). HMGB proteins and gene expression.