segunda-feira, 23 de março de 2009

Falácias sobre a Ciência



Olá pessoal! Estou lendo um romance muito interessante de um grande astrônomo e divulgador científico chamado Carl Sagan. O livro, chamado CONTATO, narra o recebimento de uma mensagem extraterrestre de um sistema chamado Vega e a dificuldade em decifrá-la, entre outras questões filosóficas interessantes.
Mas o que eu achei legal foi uma passagem de um personagem religioso fundamentalista, criticando a Ciência. Você consegue identificar as falácias???

"Os cientistas estão sempre prontos a jogar no lixo as suas 'verdades' quando aparece uma nova idéia. Orgulham-se disso. Não imaginam que o conhecmento possa ter limites. Supõem que estejamos presos à ignorância até o fim dos tempos, que em nenhuma parte da natureza exista certeza alguma. Newton suplantou Aristóteles. Einstein suplantou Newton. Amanhã alguém haverá de suplantar Einstein. Assim que conseguimos entender uma teoria, surge outra em seu lugar. Eu não me importaria tanto com isso se nos advertissem de que as idéias antigas eram experimentais. A lei da gravitação de Newton, era assim que diziam. Aliás, ainda dizem. Entretanto, se era uma lei natural, como poderia estar errada? Como poderia ser suplantada? Só Deus pode derrubar as leis da natureza, não os cientistas. Só que eles embaralham tudo. Se Albert Einstein estava certo, Isaac Newton era um amador, um trapalhão."
Contato. Carl Sagan, Companhia de bolso. pg 137.

É uma reflexão interessante essa abordagem da ciência como "descartável", sempre sendo corrigida. Inicialmente, nos causa desconfiança acreditar em algo que está sempre sendo corrigido. Mas, como sabemos, essa é a maior virtude da Ciência: A refutabilidade. Pena que existem muitas pessoas que pensam como o trecho acima...

E o conhecimento, será que ele tem mesmo limites?


Gostaria de deixar bem claro que esta é apenas a passagem de uma história fictícia, e que o Carl Sagan foi um grande defensor da Ciência e da distinção dela em relação à pseudo-Ciência. Para esse tema, sugiro um outro livro dele, chamado "O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS".


Grande abraço e até a próxima!

Para saber mais:
  • Contato. Carl Sagan. Ed. Companhia de Bolso.
  • O Mundo Assombrado pelos Demônios. Carl Sagan. Ed. Companhia de Bolso.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Emagrecendo... mas o que?

Fala galera!!! Ando meio sem tempo, e olha que as aulas mal começaram. O trote foi bem divertido, como sempre, principalmente o Show de Calouros. Mas isso é outra história...

Enfim, como estou sem tempo, resolvi escrever rapidamente sobre algo que estive pensando recentemente. Vi na TV um programa sobre dieta, dizendo que devemos consumir menos calorias etc. Aí me lembrei daquelas antigas aulas de Bioquímica: Caloria é uma unidade de energia, não massa. Então, à princípio, perder energia não significaria perder massa. Certo?

Pois bem, isso de certa forma é verdade. Sem fazer nada, nosso metabolismo gasta, por dia, 45Kg de ATP! Mas nem por isso emagrecemos tudo isso em um dia (que pena!). Na verdade, transformamos 45Kg de ATP em 45Kg de ADP + P; o que nós gastamos é a energia liberada desta reação.

Mas então, porque emagrecemos?

Novamente, lembrando da velha aula de Bioquímica cheguei a uma conclusão: são os gases! Mais especificamente, um só: O CO2. A glicose que ingerimos é transformada em diversas outras moléculas, que vão perdendo Carbonos até que seja totalmente transformada em CO2. Glicólise, Ciclo de Krebs e Cadeia Respiratória te lembram algo? Então, esse CO2 que expiramos o tempo todo é que seria a "massa emagrecida" por nós. Não é esquisito? Talvez não seja, ou talvez eu esteja errado. Se eu estiver, me avisem!!

Ah, é claro que também emagrecemos a água perdida no suor, mas como a repomos, não considero isso "perda de peso".

Agora vou comer um pouco de "ATP" antes de dormir.
Abraços e até a próxima!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Asteróides e Vida


Vocês devem ter visto que um asteróide passou "raspando" (leia-se 72 mil Km de distância, ou 1/5 da distância entre a Terra e a Lua) pelo nosso planeta recentemente. Quando isso acontece, a mídia geralmente faz um alarde sobre as consequências de um impacto ou a associação entre esses impactos e as extinções em massa. Na verdade, centenas (ou seriam milhares?) de quilos de asteróides entram em nosso planeta todos os dias; porém, a maioria acaba desintegrado pela atmosfera.
Apesar de todo o medo da possível destruição e extinção causada por esses objeto celeste, existe a possibilidade destes terem trazido vida para o nosso planeta. Essa hipótese, antigamente mais fictícia que real, chama-se panspermia.
A Panspermia (do grego sementes em toda parte) hipotetiza a possibilidade de a vida (ou moléculas biológicas) ter sido trazida de outros planetas pelos asteróides. Apesar de parecer bizarro, este tema tem sido foco de estudos científicos sérios. Basicamente, um organismo (mais provavelmente, um microrganismo como bactérias) precisaria sobreviver a 3 desafios:
  1. Expulsão do planeta "semeador";
  2. Viagem interplanetária e;
  3. Queda no planeta "semeado".
Uma hipótese relativamente plausível é a de que a vida na Terra poderia ter sido trazida, teoricamente, por um asteróide marciano. Nós últimos 20 anos, cerca de 30 meteoritos marcianos caíram no nosso planeta. Para trazer uma amostra de vida de um planeta, um asteróide deve colidir com este planeta, de forma a expelir pedaços de rochas para o espaço. O problema é que impactos dessa magnitude geralmente liberam grande quantidade de energia, podendo tornar os pedaços de rocha estéreis. Apesar disso, pesquisadores descobriram que algumas rochas ejetadas podem não se aquecer a ponto de matar os microrganismos presentes.

O segundo problema seria a viagem interplanetária. O maior perigo durante a viagem são as radiações, capazes de quebrar moléculas biológicas como o nosso DNA. Para proteger contra raios UV, uma pequena camada de rocha sobre o microrganismo seria suficiente para protegê-lo. Porém, eles não protegem contra os raios gama, capazes de penetrar na rocha. Além da radiação, o tempo de viagem pode ser muito longo, podendo chegar a milhões de anos entre a ejeção de um planeta e a queda em outro, inviabilizando qualquer transporte de vida. Apesar disso, foram calculados que 1 em cada 10 milhões de rochas chegam de Marte à Terra em menos de um ano.

Por fim, último problema seria a queda no planeta "semeado". Quando ela ocorre, o atrito com a atmosfera geralmente desintegra o meteoro. Porém, se este for grande o suficiente, apenas a superfície se aquece, mantendo o interior em temperaturas baixas o suficiente para que os microrganismos sobrevivam à queda.

Mas você pode se perguntar: Que organismos sobreviveriam a toda essa jornada? Existem exemplos no nosso planeta de bactérias que poderiam sobreviver, como o Bacillus subtilis e o Deinococcus radiodurans (sendo este último capaz de proliferar em reatores nucleares!). Eles são apenas exemplos atuais, sendo impossível saber de microrganismos à milhões de anos atrás poderiam sobreviver a esta viagem (caso tenha havido algum, obviamente).
Ilustração mostrando o transporte interplanetário de material rochoso

Não estou de maneira nenhuma defendendo esta hipótese como a geradora de vida em nosso planeta. Apenas estou enfatizando que este tópico é estudado seriamente por cientistas como David Warmflash e Benjamin Weiss, e que, apesar de muito baixa, esta parece ser uma possibilidade real. A troca de material rochoso foi muito comum em nosso Sistema Solar, principalmente no início de sua formação. Já imaginou se descobrirmos que a vida em nosso planeta é, na verdade, "alienígena"? Assumindo esta possibilidade, será que a vida não teria evoluído em nosso planeta durante bilhões de anos de forma a ser impossível associar uma origem comum entre a nossa vida e a de outro planeta (com pressões seletivas completamente diferentes), como Marte? Essas são questões que valem a pena ser refletidas...

Abraços e até a próxima!

Para saber mais:
  • http://astrobiology.nasa.gov/nai/
  • Scientific American Brasil Dez. 2005.
  • Risks threatening viable transfer of microbes between bodies in our solar system. Mileikowsky et. al. Planetary and Space Science, vol. 48, Issue 11, September 2000.
  • http://atomoemeio.blogspot.com/2009/03/foi-por-muito-pouco-asteroide-passou-de.html

terça-feira, 3 de março de 2009

Big Bang? Não, Big Bounce!

Como primeira postagem sobre o Universo (o Macro), nada como falar em origens. Entretanto, resolvi escrever sobre uma hipótese recentemente proposta para o início do Universo; O Big Bounce (algo como o Grande Salto). Não se preocupe, essa hipótese é mais fácil do que parece. Então, não tenha medo e mãos à obra!

Desde que Edwin Hubble descobriu, na década de 20 do século passado, que o Universo era muito maior do que se imaginava e que ele parecia estar em expansão, logo se perguntou; Como foi o início do Universo? Se as galáxias estão se distanciando, então houve um instante no passado em que todo o Universo estava contido em um minúsculo ponto de infinita massa, certo?
Então, foi proposta a teoria do Big Bang, ou Grande Explosão, onde este minúsculo ponto inicial explodiu, espalhando matéria e energia por todo o espaço. Este ponto inicial de massa e temperatura infinitas não pode ser descrito pelas leis da relatividade geral de Einstein; isto se chama singularidade do Big Bang. Esta singularidade indicaria que a teoria de Einstein está incompleta, ou seja, precisa-se de outra teoria que explique este momento inicial do Universo. Ela também indica que não haveria nada antes do Big Bang, ou seja, o início de tudo seria mesmo este ponto inicial de massa e temperatura infinitas. Representação esquemática da "Explosão Inicial"

Porém, logo surge outra pergunta: Mas o que houve antes do Big Bang? É aí que entra o Big Bounce.
Para a hipótese do Big Bounce funcionar, é necessário introduzir um estranho conceito chamado átomo de espaço-tempo. Este conceito nos diz que o espaço não é um continuum, mas sim composto por minúsculos "átomos" chamados espaço-tempo. Estes minúsculos átomos formam uma malha invisível, nos dando a impressão de que o espaço é, na verdade, um continuum. Porém, no instante inicial do Universo, a densidade de energia nesta malha era tão grande que esses átomos espaço-tempo fizeram a gravidade se tornar uma força repulsiva, fazendo com que ocorresse a expansão que chamamos de Big Bang! E mais, os átomos de espaço-tempo fizeram com que a Grande Explosão ocorresse antes que pudesse ocorrer a tal singularidade do Big Bang (ou seja, a temperatura e massa inicial são gigantescas, mas finitas). E isso abre espaço para que haja um Universo antes do Big Bang!



Representação da malha de átomos espaço-tempo.



Uma das hipóteses do Big Bounce prediz que o Universo antes do Big Bang era o oposto do nosso, ou seja, ele seria um Universo em contração. Essa contração ocorreria até que a densidade nos átomos espaço-tempo fosse tal que promovesse uma rápida expansão, o chamado Big Bang.
De acordo com esta hipótese do Big Bounce, o Universo se contraiu, atingindo uma densidade altíssima (porém finita), sofrendo então uma explosão, com consequente expansão, até os dias de hoje.
Outro possível início seria um estado de densidade infinita, até que algo (desconhecido) iniciasse a expansão do Universo até os dias de hoje.


Bom pessoal, se você chegou até aqui, Parabéns. Tentei explicar da maneira mais simples e agradável possível (até porquê sou um leigo nessa área!) e espero que o texto tenha sido inteligível. É realmente fascinante ver como o homem pode chegar, através da Ciência, aos confins mais antigos e escondidos do Universo; a sua própria origem!

Abraços e até a próxima!

Quer saber mais?
  • Scientific American, October 2008.
  • Bojowald, Martin. Nature Physics, Vol3, Nº8, pg 523-525; August 2007.