quarta-feira, 4 de março de 2009

Asteróides e Vida


Vocês devem ter visto que um asteróide passou "raspando" (leia-se 72 mil Km de distância, ou 1/5 da distância entre a Terra e a Lua) pelo nosso planeta recentemente. Quando isso acontece, a mídia geralmente faz um alarde sobre as consequências de um impacto ou a associação entre esses impactos e as extinções em massa. Na verdade, centenas (ou seriam milhares?) de quilos de asteróides entram em nosso planeta todos os dias; porém, a maioria acaba desintegrado pela atmosfera.
Apesar de todo o medo da possível destruição e extinção causada por esses objeto celeste, existe a possibilidade destes terem trazido vida para o nosso planeta. Essa hipótese, antigamente mais fictícia que real, chama-se panspermia.
A Panspermia (do grego sementes em toda parte) hipotetiza a possibilidade de a vida (ou moléculas biológicas) ter sido trazida de outros planetas pelos asteróides. Apesar de parecer bizarro, este tema tem sido foco de estudos científicos sérios. Basicamente, um organismo (mais provavelmente, um microrganismo como bactérias) precisaria sobreviver a 3 desafios:
  1. Expulsão do planeta "semeador";
  2. Viagem interplanetária e;
  3. Queda no planeta "semeado".
Uma hipótese relativamente plausível é a de que a vida na Terra poderia ter sido trazida, teoricamente, por um asteróide marciano. Nós últimos 20 anos, cerca de 30 meteoritos marcianos caíram no nosso planeta. Para trazer uma amostra de vida de um planeta, um asteróide deve colidir com este planeta, de forma a expelir pedaços de rochas para o espaço. O problema é que impactos dessa magnitude geralmente liberam grande quantidade de energia, podendo tornar os pedaços de rocha estéreis. Apesar disso, pesquisadores descobriram que algumas rochas ejetadas podem não se aquecer a ponto de matar os microrganismos presentes.

O segundo problema seria a viagem interplanetária. O maior perigo durante a viagem são as radiações, capazes de quebrar moléculas biológicas como o nosso DNA. Para proteger contra raios UV, uma pequena camada de rocha sobre o microrganismo seria suficiente para protegê-lo. Porém, eles não protegem contra os raios gama, capazes de penetrar na rocha. Além da radiação, o tempo de viagem pode ser muito longo, podendo chegar a milhões de anos entre a ejeção de um planeta e a queda em outro, inviabilizando qualquer transporte de vida. Apesar disso, foram calculados que 1 em cada 10 milhões de rochas chegam de Marte à Terra em menos de um ano.

Por fim, último problema seria a queda no planeta "semeado". Quando ela ocorre, o atrito com a atmosfera geralmente desintegra o meteoro. Porém, se este for grande o suficiente, apenas a superfície se aquece, mantendo o interior em temperaturas baixas o suficiente para que os microrganismos sobrevivam à queda.

Mas você pode se perguntar: Que organismos sobreviveriam a toda essa jornada? Existem exemplos no nosso planeta de bactérias que poderiam sobreviver, como o Bacillus subtilis e o Deinococcus radiodurans (sendo este último capaz de proliferar em reatores nucleares!). Eles são apenas exemplos atuais, sendo impossível saber de microrganismos à milhões de anos atrás poderiam sobreviver a esta viagem (caso tenha havido algum, obviamente).
Ilustração mostrando o transporte interplanetário de material rochoso

Não estou de maneira nenhuma defendendo esta hipótese como a geradora de vida em nosso planeta. Apenas estou enfatizando que este tópico é estudado seriamente por cientistas como David Warmflash e Benjamin Weiss, e que, apesar de muito baixa, esta parece ser uma possibilidade real. A troca de material rochoso foi muito comum em nosso Sistema Solar, principalmente no início de sua formação. Já imaginou se descobrirmos que a vida em nosso planeta é, na verdade, "alienígena"? Assumindo esta possibilidade, será que a vida não teria evoluído em nosso planeta durante bilhões de anos de forma a ser impossível associar uma origem comum entre a nossa vida e a de outro planeta (com pressões seletivas completamente diferentes), como Marte? Essas são questões que valem a pena ser refletidas...

Abraços e até a próxima!

Para saber mais:
  • http://astrobiology.nasa.gov/nai/
  • Scientific American Brasil Dez. 2005.
  • Risks threatening viable transfer of microbes between bodies in our solar system. Mileikowsky et. al. Planetary and Space Science, vol. 48, Issue 11, September 2000.
  • http://atomoemeio.blogspot.com/2009/03/foi-por-muito-pouco-asteroide-passou-de.html

3 comentários:

  1. Mt interessante o seu blog e vc escreve super bem! Parabéns e continue assim! Pena q eu nem sabia q vc tinha blog... =( Agora, irei visitá-lo + vezes. ;)

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  2. Olá Fabrício, passei para visitar se blog. É bom termos mais espaço para divulgação (e discussão) científica, parabéns!

    Quanto ao seu post, me pergunto apenas que como não há vestígios de vida e nem que um dia houve vida nos outros planetas do sistema solar...a viagem interplanetária não teria sido muito longa? Mas também não descarto a possibilidade, na verdade, acho o assunto bem interessante e vc discutiu bem criticamente os principais argumentos.

    Abraços

    PS: eu também fiz genética na UFRJ!

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  3. Faleu Agatha!!! Sinta-se em casa hehehe

    Olá Juliana, minha veterana hehehe
    Vc tem toda a razão! Essa viagem interplanetária realmente seria muito longa. Por outro lado, há bilhões de anos atrás tudo estava "mais próximo", o que encurtaria um pouco a viagem. Mas mesmo assim seria muitíssimo pouco provável que um microrganismo sobrevivesse. Por isso, fala-se mais em moléculas biológicas pré-vida, como aminoácidos ou ácidos nucléicos.

    Mas se descobrirmos vida (viva ou extinta) em Marte, existe uma chance razoável de compartilharmos a mesma origem, pois algumas rochas chegam aqui em 1 ano, conforme postado.

    Valeu pelo elogio! =)

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