segunda-feira, 25 de maio de 2009

Para quem curte o Macro

Olá pessoal! Este post será bem pequeno pois trata-se da divulgaçãod e dois eventos "macro". O primeiro deles está ocorrendo nesta semana e se chama "Semana da Matéria Escura e da Energia Escura". Do dia 25/05 ao dia 29/05 estarão acontecendo palestras à partir de 18:30 sobre estes intrigantes temas. O público-alvo é qualquer cidadão comum, então não se preocupe em boiar com fórmulas complicadas! O evento ocorre no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que fica na rua Xavier Sigaud 150, Botafogo (pertinho do Rio Sul).
Link do evento: http://www.des-brazil.org/semana/
O outro evento se chama "Astronomia para poetas", organizado pela Casa da Ciência da UFRJ. As datas e horários encontram-se no link abaixo:
http://www.casadaciencia.ufrj.br/CienciaParaPoetas/astronomia2009/images/flyer_email.pdf

A Casa da Ciência também fica ao lado do Rio Sul.

Abraços e até a próxima!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ciência e Religião: Uma história

Olá pessoal! Bem, como vou para um congresso amanhã e só volto semana que vem, resolvi postar algo enquanto faço as malas. E, como estou sem tempo, resolvi publicar um texto que escrevi para o Jornal da Bio ano passado. É uma historinha inventada que disserta sobre a relação homem (desde os seus primórdios) - religião - ciência. Apesar de ter cerca de 1 ano, minha opinião já mudou um pouco, mas resolvi manter o texto original. Espero que vcs gostem! Grande abraço e até a próxima =)

Convido você, leitor, à imaginação. Feche os olhos e imagine o tempo regredindo milhares e milhares de anos. Estamos no período dos “homens das cavernas”. Abrindo os olhos, observa-se por toda a volta florestas, rios e montanhas. Estamos num mundo natural, selvagem. Agora, imagine-se como um humano destes tempos. Por todas as direções, reina o desconhecido. Sons estranhos vindos de moitas próximas, gritos indecifráveis de pássaros e uma estranha esfera amarela no firmamento. Todos estes fenômenos desconhecidos causam, primeiramente, um único sentimento: o temor.


Viver é sofrer. Diariamente, busca-se alimento por todos os locais possíveis e nem sempre se consegue encontrá-los. O medo ronda cada mata fechada, cada fundo de lago, cada caverna escura. Vive-se a todo o momento o risco de morte, seja por doenças, fome, animais selvagens ou acidentes neste hostil ambiente. Observa-se que, às vezes, pode-se enxergar a grandes distâncias, quando aquela estranha esfera amarela reina no céu. Às vezes não se enxerga nem um palmo a frente, quando ergue-se do horizonte outra esfera, branca, acompanhada de inúmeros pontos brilhantes. Outras vezes, água cai do céu com grandes estrondos e assustadoras luzes, que iluminam o invisível da noite por poucos segundos e ateiam fogo onde tocam. A fome ronda a todo instante o grupo de homens em busca da sobrevivência. Em resumo, o mundo é temido, doloroso e amedrontador.


Devido a estas dificuldades, buscava-se interpretar estes diferentes fenômenos na tentativa de amenizar todo o sofrimento vivido. Então, surge a explicação mais plausível para o inexplicável (e temido): a ação de seres superiores, os Deuses. Surgem, então, as primeiras religiões politeístas. Isso ocorre, pois o homem primitivo teme o desconhecido, e esse medo o impossibilita avaliar criticamente o fenômeno natural. Além disso, devido à tamanha hostilidade do ambiente e toda a dificuldade de sobrevivência, havia a necessidade de personificar estes fenômenos de forma a, posteriormente, poder alterá-los. Com isso, cria-se o Deus do Sol, da Lua, da Água, do Fogo etc. O homem, então, poderia pedir aos Deuses piedade e amenização de seu sofrimento através dos rituais, nos quais se oferecia aos Deuses determinadas oferendas em troca de sua piedade e garantia de um futuro melhor. Entretanto, conforme o tempo foi passando e o homem foi, aos poucos, domando a Natureza, o medo foi substituído pela curiosidade e pela observação crítica dos fatos. Poderia ter sido observado que, em dias muito quentes, as poças de água que ocorriam no chão desapareciam; e que, em, logo depois, a água retornava ao solo através da chuva. Será que há alguma relação entre estes acontecimentos? Será mesmo que tudo não passa de vontade divina? Nasce então, a Ciência.


A Ciência surge posteriormente à religião, quando o homem já dominava, de alguma forma, a Natureza. Ela nasce da ruptura com a idéia de que a vontade Divina é a causa de todos os acontecimentos e passa a questionar se não haveriam outros fatores envolvidos. Então, foi se observando que aqueles fenômenos antes tidos como sobrenaturais ou atribuídos aos Deuses poderiam ser, de alguma forma, explicados e até testados.


Essa substituição da crença ou fé pela prova, pela experimentação, fez com que aqueles diversos Deuses fossem sendo esquecidos. Então, surgem as religiões monoteístas. E em que elas se baseiam?


Estas religiões se baseiam na existência de um único Deus para todas as coisas, mas talvez duas em especial: a vida e a morte. Estes dois grandes mistérios ainda não foram (e talvez nunca sejam) desvendados pela Ciência. Existe vida após a morte? Para onde vamos depois do fim? Enquanto isso, acredita-se na morte como sendo vontade Divina, ou ainda como sendo a punição por erros de nossos antepassados Adão e Eva (seria a maçã o símbolo do conhecimento?).


É importante ressaltar que tanto a Ciência quanto a Religião possuem papéis fundamentais no desenvolvimento da humanidade e que elas não devem ser excludentes. A primeira se baseia na comprovação e a segunda na fé, porém uma não é superior a outra; são apenas maneiras diferentes de interpretar o mundo ao nosso redor e de tentar explicar o desconhecido, na tentativa de amenizar o sofrimento humano; portanto, ambas devem ser consideradas e respeitadas.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Origem do Câncer


Olá pessoal! Faz tempo que não posto nada, e tudo isso é culpa das provas e do feriadão (que acabei descansando na casa da minha avó hehehe). Arrumei um tempinho e resolvi escrever sobre uma doença bastante grave e que certamente já afetou algum conhecido seu: O câncer. Na verdade, falarei mais sobre um tópico pouco falado (ao meu ver), que se resume na seguinte pergunta: "Porquê o câncer existe?"



O Câncer é uma doença bastante grave e que, só nos EUA, é responsável por 20% das mortes e movimenta 220 bilhões de dólares por ano. Dá pra imaginar porquê tanta gente estuda essa doença né?

Para falarmos da origem do câncer, precisamos voltar no tempo. Voltar bastante. Antes de todos os organismos multicelulares existirem. Estamos falando de mais de 570 milhões de anos! Nessa época, a Terra era povoada por microrganismos unicelulares que se nutriam de matéria orgânica no meio ou através da fotossíntese. Aquelas bactérias que conseguiam sobreviver e se reproduzir mais rapidamente tendiam a deixar mais proles e acabavam dominando a população. Logo, a competição era intensa e, quanto mais proles em menos tempo uma bactéria deixasse, melhor para ela.




Então, surgiram os primeiros organismos multicelulares. Para uma célula, a vida em um organismo multicelular é diferente: cada uma delas tem uma função específica e necessária para que todo o organismo sobreviva. Houve então, uma mudança de ambiente onde a competição intensa do "cada um por si" anterior passou a ser um "a união faz a força". Nos organismos multicelulares, a cooperação é fundamental e cada célula só pode se dividir no momento correto, para que o organismo se mantenha saudável.




E assim caminhou a evolução. Mas existe um problema. Como manter bem organizado um organismo multicelular como o nosso, com trilhões de células? Para isso, existem inúmeras regulações que as células estão o tempo todo sofrendo para que elas apenas se dividam quando necessário, evitando uma competição desenfreada entre as células que culminaria com a morte de todo o organismo. Então, a célula precisa dos chamados fatores de crescimento, que são moléculas que fazem a célula se manter viva, se dividir, se diferenciar ou até morrer. O mais interessante é que, se a célula para de receber estes sinais, ela comete um "suicídio celular", também conhecido como apoptose. Se ela não está recebendo os sinais de sempre, isso pode significar que ela está no local errado, e (para o organismo) é melhor que ela morra do que se divida e prejudique todo o organismo.

Mas o que o câncer tem a ver com tudo isso? Tudo! O câncer se origina justamente quando uma célula do seu corpo passa a não respeitar mais a "vizinhança" e resolve se alimentar e se dividir o máximo possível, como fazem ainda hoje os organismos unicelulares como as bactérias. Isso cria um desequilíbro que culmina com a formação do que chamamos de tumor. Mas o que faz a célula "decidir" se multiplicar de maneira desregulada?

O principal vilão é a mutação, ou alteração na sequência de DNA. As mutações ocorrem o tempo todo - 1 bilhão de células do seu corpo sofrem mutações todos os dias. O problema ocorre quando a mutação não é corrigida e passa a dar uma vantagem evolutica para a célula que a sofreu. Essa vantagem evolutiva faz a célula então se dividir mais que as outras, podendo culminar com a formação do câncer. O acúmulo de mutações pode fazer várias coisas com a célula:
1- Fazê-la se multiplicar intensamente, sem precisar de fatores de crescimento.
2- Fazê-la ignorar os fatores que sinalizam a apoptose ou parada de duplicação.
3- Fazê-la migrar para outros locais do corpo, gerando o quadro gravíssimo chamado metástase.
4- Entre outras coisas que não valem a pena citar agora...

Então, pensando evolutivamente, poderíamos associar o câncer com um "retrocesso" onde a célula do organismo multicelular passa a se comportar como um organismo unicelular. E isso faz com que o órgão aonde o tumor se encontra não funcione corretamente, podendo causar a morte do paciente caso o tumor não seja removido ou destruído com medicamentos. Aliás, uma grande dificuldade do tratamento do câncer é justamente atacá-las sem afetar as células saudáveis.

Espero que você tenha gostado dessa explicação (simplificada, claro) da origem do câncer, tanto evolutiva quanto patológica.

Abraços e até a próxima!

Para saber mais:

  • http://www.icb.ufmg.br/lbem/aulas/grad/evol/especies/preposcambriano.html - Site que fala um pouco sobre a história da vida na Terra.
  • Molecular Biology of the Cell. Alberts et. al.

domingo, 12 de abril de 2009

Entendendo a Relatividade em absoluto. Parte II


Olá pessoal! Bom, tentarei explicar a segunda parte desse tópico de maneira mais didática ainda. Caso algo não seja entendido, não tenha vergonha de perguntar! Só pra lembrar, escrevo aqui como um amador, afinal, sou estudante de Biologia (e vocês sabem como, em geral, Biólogos "amam" Física).

Na última postagem, a gente viu a Relatividade Especial diz que as leis da ciência são as mesmas para qualquer observador se movimentando livremente. Porém, essa lei foi expandida para observadores que não estejam livres, mas presos em um campo gravitacional (como em um planeta). Isso se chama princípio da equivalência: De maneira geral, ele diz que você não saberia dizer se está parado em um planeta ou se movimentando em uma aceleração constante pelo. Como assim????
Imagine que você está em um elevador no espaço. Você não consegue ver o lado de fora. Como está no espaço, não há gravidade (nem em cima e embaixo) e você fica flutuando pelo elevador. Agora, imagine que o elevador começa a se movimentar com uma aceleração constante qualquer: vamos supur, 30 km/h2. Nesse momento, você bate com as pernas na direção oposta ao movimento, que passa a ser o seu "chão". Se você jogar algo, ele vai cair na direção do "chão". As coisas se comportarão como se você estivesse na Terra (ou seja, eu um lugar com campo gravitacional).

A mesma coisa aconteceria se você estivesse em um carro, de olhos vendados e a uma aceleração constante (imaginando que a pista fosse perfeita, sem buracos etc.). Não daria pra saber se você está com o carro estacionado ou se movendo com uma aceleração constante. Conseguiu perceber?

Agora que conseguimos entender o princípio da equivalência, ou seja, que não saberíamos diferenciar se estamos parados em algum lugar com gravidade ou viajando pelo espaço com aceleração constante, vamos entender como a gravidade afeta a passagem do tempo!

Imagine um foguete no espaço com uma pessoa em cada ponta. Esse foguete é imenso, tão grande que a luz demora 1 segundo para ir de uma ponta a outra. As pessoas têm relógios idênticos. A pessoa do teto começa a piscar uma lanterna em intervalos de 1 segundo. A pessoa da base demora 1s para receber o primeiro sinal (pq a luz demora 1s para atravessar o foguete), e também começa a receber o sinal de luz com intervalo de 1s. Até aqui tudo normal. Agora, vamos colocar o foguete pra funcionar!

Com o foguete com velocidade constante, como 500km/h, o cara do teto pisca a lanterna em intervalos de 1s na direção da base. Como o foguete está se movimentando, a luz demorará menos de 1s para atravessar o foguete, e chegará em menos de 1s no cara da base. Para o cara da base, o intervalo entre as luzes também será de 1s, pois a velocidade é constante e as piscadelas de luz demorarão o mesmo tempo para chegar do topo à base do foguete.

Porém, com a aceleração constante (vamos considerar a velocidade sempre aumentando), cada sinal enviado pelo cara do teto terá uma distância menor a percorrer. Então, o cara da base vai ver que os sinais não estão chegando em intervalos de 1s, conforme jura o cara do teto!

Se você entendeu até aqui, perfeito! Lembra-se que o Princípio da Equivalência diz que tanto faz se vc está no espaço em aceleração constante ou em um lugar com gravidade? Portanto, o mesmo vale se o foguete estiver paradinho na superficie da Terra! Isso mesmo! Quer dizer que o tempo, para o cara do teto do foguete, passa mais devagar do que para o cara da base, na superfície da Terra. Ou seja, se o cara do teto enviar sinais de luz com intervalos de 1s (de acordo com o relógio dele), o cara da base receberá os sinais com intervalos menores que 1s (de acordo com o relógio dele). Que bizarro!

Isso tudo quer dizer que, quanto menor o campo gravitacional, mais lentamente passa o tempo. E isso levou o surgimento do chamado Paradoxo dos gêmeos. De acordo com essa teoria, se você pegar gêmeos idênticos e deixar um na Terra e outro viajando na velocidade da luz pelo espaço, quando eles voltarem a se encontrar, o que estava na Terra será mais velho (porque o tempo passou mais devagar para o viajante)! Vale lembrar que estas distorções só ocorrem em velocidades muito rápidas, comparadas à velocidade da luz (ou seja, 300 mil Km/s).

Então, esqueça a idéia de tempo como sendo algo absoluto. Tanto o tempo quanto o espaço são entidades relativas. Na verdade, de acordo com essa Teoria da Relatividade Geral, o que existe é o chamado espaço-tempo, que é curvado por corpos com gravidade. Então, a Terra não gira em torno do Sol, e sim viaja pela curvatura no espaço-tempo gerada por ele!

Bom pessoal, eu sei que entender relatividade não é fácil (imagina escrever sobre ela - e sendo leigo!). Espero ter sido o mais didático possível. Caso vocês não tenham entendido nada, a culpa é totalmente minha; novamente, recomendo o livro "Uma Nova História do Tempo", que fala sobre este e muitos outros temas de forma simples e fascinante. Vale a pena conferir!
Abraços e até a próxima! =D

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Entendendo a Relatividade em absoluto. Parte I

Antes de mais nada, gostaria de informar que falarei um pouco sobre o tema como um leigo. Certamente, um físico perceberá muitos detalhes ausentes ou simplificados. Mas o objetivo aqui é me fazer entender sobre um tema complicado, mas ao mesmo tempo fascinante. Mas porquê um estudante de Biologia falaria de Física Moderna???
Porquê a Física sempre me intrigou. Não estou falando dos cálculos de Energia cinética de um elevador em queda livre ou do trabalho realizado por uma força y. Estou falando da parte, na minha opinião, mais importante e que deveria ser o foco nas escolas: a teoria. "Porquê existe gravidade?", "Como nada se move mais rápido que a luz?", "O que é o magnetismo afinal?" foram perguntas que eu me fazia na escola (e muitas ainda não sei a resposta!).
Apesar de considerar a Física uma disciplina extremamente difícil, tanto pela matemática quanto pelas abstrações e contra-intuições, penso que os estudantes da vida são responsáveis pelo estudo da verdadeira complexidade; afinal, o que é uma partícula sem massa e dimensão em uma caixa isolada e sem atrito frente a uma célula ou a um organismo multicelular?
Brincadeiras à parte, tentarei abordar de uma maneira bem didática o que é a relatividade e algumas consequências interessantes. Praticamente tudo o que eu escrever aqui foi retirado de um brilhante livro de Stephen Hawking chamado "Uma Nova História do Tempo". Recomendo esse livro para qualquer um que deseje entender a beleza da física teória de uma forma lúdica e compreensiva.
Todo mundo lembra que praticamente qualquer coisa em Física depende do referencial. Imagine uma pessoa em um trem em movimento. Imagine ela arremessando uma bola na direção do movimento do trem. A que velocidade a bolinha foi arremessada? Para quem a arremessou do trem, certamente a velocidade é menor do que para alguém que estivesse fora observando, pois de fora a bolinha teria a velocidade do trem mais a velocidade do próprio arremesso. Então, a bolinha percorreu um espaço maior na visão do observador fora do trem do que de quem está no trem. Mas e se quem estava dentro do trem acendesse uma lanterna?
Com a luz, que se move a cerca de 300 mil Km/s, as coisas são diferentes. Para qualquer observador, a velocidade dela é fixa. É, isso é estranho. Quer dizer que a luz está se movendo a 300 mil Km/s tanto para quem está no trem quanto para quem está fora? Exatamente!
Lembra-se da primeira fórmula que aprendemos na escola? Velocidade = espaço percorrido / tempo. A velocidade da luz é fixa. Mas ela percorreu uma distância diferente; maior para quem estava vendo fora do trem e menor para quem estava vendo de dentro do trem. Então, para compensar a diferença no "espaço percorrido" da fórmula, o tempo deve ser diferente para cada observador. Ou seja, Mas que bizarro! É por isso que o tempo passou a ser relativo, ou seja, dependendo do observador.
A teoria de Einstein que explicou que a velocidade da luz é igual para qualquer observador (e outras coisas) chama-se Relatividade Especial. Na próxima postagem, tentarei explicar a teoria completa, ou Relatividade Geral.
Abraços pessoal =)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Falácias sobre a Ciência



Olá pessoal! Estou lendo um romance muito interessante de um grande astrônomo e divulgador científico chamado Carl Sagan. O livro, chamado CONTATO, narra o recebimento de uma mensagem extraterrestre de um sistema chamado Vega e a dificuldade em decifrá-la, entre outras questões filosóficas interessantes.
Mas o que eu achei legal foi uma passagem de um personagem religioso fundamentalista, criticando a Ciência. Você consegue identificar as falácias???

"Os cientistas estão sempre prontos a jogar no lixo as suas 'verdades' quando aparece uma nova idéia. Orgulham-se disso. Não imaginam que o conhecmento possa ter limites. Supõem que estejamos presos à ignorância até o fim dos tempos, que em nenhuma parte da natureza exista certeza alguma. Newton suplantou Aristóteles. Einstein suplantou Newton. Amanhã alguém haverá de suplantar Einstein. Assim que conseguimos entender uma teoria, surge outra em seu lugar. Eu não me importaria tanto com isso se nos advertissem de que as idéias antigas eram experimentais. A lei da gravitação de Newton, era assim que diziam. Aliás, ainda dizem. Entretanto, se era uma lei natural, como poderia estar errada? Como poderia ser suplantada? Só Deus pode derrubar as leis da natureza, não os cientistas. Só que eles embaralham tudo. Se Albert Einstein estava certo, Isaac Newton era um amador, um trapalhão."
Contato. Carl Sagan, Companhia de bolso. pg 137.

É uma reflexão interessante essa abordagem da ciência como "descartável", sempre sendo corrigida. Inicialmente, nos causa desconfiança acreditar em algo que está sempre sendo corrigido. Mas, como sabemos, essa é a maior virtude da Ciência: A refutabilidade. Pena que existem muitas pessoas que pensam como o trecho acima...

E o conhecimento, será que ele tem mesmo limites?


Gostaria de deixar bem claro que esta é apenas a passagem de uma história fictícia, e que o Carl Sagan foi um grande defensor da Ciência e da distinção dela em relação à pseudo-Ciência. Para esse tema, sugiro um outro livro dele, chamado "O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS".


Grande abraço e até a próxima!

Para saber mais:
  • Contato. Carl Sagan. Ed. Companhia de Bolso.
  • O Mundo Assombrado pelos Demônios. Carl Sagan. Ed. Companhia de Bolso.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Emagrecendo... mas o que?

Fala galera!!! Ando meio sem tempo, e olha que as aulas mal começaram. O trote foi bem divertido, como sempre, principalmente o Show de Calouros. Mas isso é outra história...

Enfim, como estou sem tempo, resolvi escrever rapidamente sobre algo que estive pensando recentemente. Vi na TV um programa sobre dieta, dizendo que devemos consumir menos calorias etc. Aí me lembrei daquelas antigas aulas de Bioquímica: Caloria é uma unidade de energia, não massa. Então, à princípio, perder energia não significaria perder massa. Certo?

Pois bem, isso de certa forma é verdade. Sem fazer nada, nosso metabolismo gasta, por dia, 45Kg de ATP! Mas nem por isso emagrecemos tudo isso em um dia (que pena!). Na verdade, transformamos 45Kg de ATP em 45Kg de ADP + P; o que nós gastamos é a energia liberada desta reação.

Mas então, porque emagrecemos?

Novamente, lembrando da velha aula de Bioquímica cheguei a uma conclusão: são os gases! Mais especificamente, um só: O CO2. A glicose que ingerimos é transformada em diversas outras moléculas, que vão perdendo Carbonos até que seja totalmente transformada em CO2. Glicólise, Ciclo de Krebs e Cadeia Respiratória te lembram algo? Então, esse CO2 que expiramos o tempo todo é que seria a "massa emagrecida" por nós. Não é esquisito? Talvez não seja, ou talvez eu esteja errado. Se eu estiver, me avisem!!

Ah, é claro que também emagrecemos a água perdida no suor, mas como a repomos, não considero isso "perda de peso".

Agora vou comer um pouco de "ATP" antes de dormir.
Abraços e até a próxima!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Asteróides e Vida


Vocês devem ter visto que um asteróide passou "raspando" (leia-se 72 mil Km de distância, ou 1/5 da distância entre a Terra e a Lua) pelo nosso planeta recentemente. Quando isso acontece, a mídia geralmente faz um alarde sobre as consequências de um impacto ou a associação entre esses impactos e as extinções em massa. Na verdade, centenas (ou seriam milhares?) de quilos de asteróides entram em nosso planeta todos os dias; porém, a maioria acaba desintegrado pela atmosfera.
Apesar de todo o medo da possível destruição e extinção causada por esses objeto celeste, existe a possibilidade destes terem trazido vida para o nosso planeta. Essa hipótese, antigamente mais fictícia que real, chama-se panspermia.
A Panspermia (do grego sementes em toda parte) hipotetiza a possibilidade de a vida (ou moléculas biológicas) ter sido trazida de outros planetas pelos asteróides. Apesar de parecer bizarro, este tema tem sido foco de estudos científicos sérios. Basicamente, um organismo (mais provavelmente, um microrganismo como bactérias) precisaria sobreviver a 3 desafios:
  1. Expulsão do planeta "semeador";
  2. Viagem interplanetária e;
  3. Queda no planeta "semeado".
Uma hipótese relativamente plausível é a de que a vida na Terra poderia ter sido trazida, teoricamente, por um asteróide marciano. Nós últimos 20 anos, cerca de 30 meteoritos marcianos caíram no nosso planeta. Para trazer uma amostra de vida de um planeta, um asteróide deve colidir com este planeta, de forma a expelir pedaços de rochas para o espaço. O problema é que impactos dessa magnitude geralmente liberam grande quantidade de energia, podendo tornar os pedaços de rocha estéreis. Apesar disso, pesquisadores descobriram que algumas rochas ejetadas podem não se aquecer a ponto de matar os microrganismos presentes.

O segundo problema seria a viagem interplanetária. O maior perigo durante a viagem são as radiações, capazes de quebrar moléculas biológicas como o nosso DNA. Para proteger contra raios UV, uma pequena camada de rocha sobre o microrganismo seria suficiente para protegê-lo. Porém, eles não protegem contra os raios gama, capazes de penetrar na rocha. Além da radiação, o tempo de viagem pode ser muito longo, podendo chegar a milhões de anos entre a ejeção de um planeta e a queda em outro, inviabilizando qualquer transporte de vida. Apesar disso, foram calculados que 1 em cada 10 milhões de rochas chegam de Marte à Terra em menos de um ano.

Por fim, último problema seria a queda no planeta "semeado". Quando ela ocorre, o atrito com a atmosfera geralmente desintegra o meteoro. Porém, se este for grande o suficiente, apenas a superfície se aquece, mantendo o interior em temperaturas baixas o suficiente para que os microrganismos sobrevivam à queda.

Mas você pode se perguntar: Que organismos sobreviveriam a toda essa jornada? Existem exemplos no nosso planeta de bactérias que poderiam sobreviver, como o Bacillus subtilis e o Deinococcus radiodurans (sendo este último capaz de proliferar em reatores nucleares!). Eles são apenas exemplos atuais, sendo impossível saber de microrganismos à milhões de anos atrás poderiam sobreviver a esta viagem (caso tenha havido algum, obviamente).
Ilustração mostrando o transporte interplanetário de material rochoso

Não estou de maneira nenhuma defendendo esta hipótese como a geradora de vida em nosso planeta. Apenas estou enfatizando que este tópico é estudado seriamente por cientistas como David Warmflash e Benjamin Weiss, e que, apesar de muito baixa, esta parece ser uma possibilidade real. A troca de material rochoso foi muito comum em nosso Sistema Solar, principalmente no início de sua formação. Já imaginou se descobrirmos que a vida em nosso planeta é, na verdade, "alienígena"? Assumindo esta possibilidade, será que a vida não teria evoluído em nosso planeta durante bilhões de anos de forma a ser impossível associar uma origem comum entre a nossa vida e a de outro planeta (com pressões seletivas completamente diferentes), como Marte? Essas são questões que valem a pena ser refletidas...

Abraços e até a próxima!

Para saber mais:
  • http://astrobiology.nasa.gov/nai/
  • Scientific American Brasil Dez. 2005.
  • Risks threatening viable transfer of microbes between bodies in our solar system. Mileikowsky et. al. Planetary and Space Science, vol. 48, Issue 11, September 2000.
  • http://atomoemeio.blogspot.com/2009/03/foi-por-muito-pouco-asteroide-passou-de.html

terça-feira, 3 de março de 2009

Big Bang? Não, Big Bounce!

Como primeira postagem sobre o Universo (o Macro), nada como falar em origens. Entretanto, resolvi escrever sobre uma hipótese recentemente proposta para o início do Universo; O Big Bounce (algo como o Grande Salto). Não se preocupe, essa hipótese é mais fácil do que parece. Então, não tenha medo e mãos à obra!

Desde que Edwin Hubble descobriu, na década de 20 do século passado, que o Universo era muito maior do que se imaginava e que ele parecia estar em expansão, logo se perguntou; Como foi o início do Universo? Se as galáxias estão se distanciando, então houve um instante no passado em que todo o Universo estava contido em um minúsculo ponto de infinita massa, certo?
Então, foi proposta a teoria do Big Bang, ou Grande Explosão, onde este minúsculo ponto inicial explodiu, espalhando matéria e energia por todo o espaço. Este ponto inicial de massa e temperatura infinitas não pode ser descrito pelas leis da relatividade geral de Einstein; isto se chama singularidade do Big Bang. Esta singularidade indicaria que a teoria de Einstein está incompleta, ou seja, precisa-se de outra teoria que explique este momento inicial do Universo. Ela também indica que não haveria nada antes do Big Bang, ou seja, o início de tudo seria mesmo este ponto inicial de massa e temperatura infinitas. Representação esquemática da "Explosão Inicial"

Porém, logo surge outra pergunta: Mas o que houve antes do Big Bang? É aí que entra o Big Bounce.
Para a hipótese do Big Bounce funcionar, é necessário introduzir um estranho conceito chamado átomo de espaço-tempo. Este conceito nos diz que o espaço não é um continuum, mas sim composto por minúsculos "átomos" chamados espaço-tempo. Estes minúsculos átomos formam uma malha invisível, nos dando a impressão de que o espaço é, na verdade, um continuum. Porém, no instante inicial do Universo, a densidade de energia nesta malha era tão grande que esses átomos espaço-tempo fizeram a gravidade se tornar uma força repulsiva, fazendo com que ocorresse a expansão que chamamos de Big Bang! E mais, os átomos de espaço-tempo fizeram com que a Grande Explosão ocorresse antes que pudesse ocorrer a tal singularidade do Big Bang (ou seja, a temperatura e massa inicial são gigantescas, mas finitas). E isso abre espaço para que haja um Universo antes do Big Bang!



Representação da malha de átomos espaço-tempo.



Uma das hipóteses do Big Bounce prediz que o Universo antes do Big Bang era o oposto do nosso, ou seja, ele seria um Universo em contração. Essa contração ocorreria até que a densidade nos átomos espaço-tempo fosse tal que promovesse uma rápida expansão, o chamado Big Bang.
De acordo com esta hipótese do Big Bounce, o Universo se contraiu, atingindo uma densidade altíssima (porém finita), sofrendo então uma explosão, com consequente expansão, até os dias de hoje.
Outro possível início seria um estado de densidade infinita, até que algo (desconhecido) iniciasse a expansão do Universo até os dias de hoje.


Bom pessoal, se você chegou até aqui, Parabéns. Tentei explicar da maneira mais simples e agradável possível (até porquê sou um leigo nessa área!) e espero que o texto tenha sido inteligível. É realmente fascinante ver como o homem pode chegar, através da Ciência, aos confins mais antigos e escondidos do Universo; a sua própria origem!

Abraços e até a próxima!

Quer saber mais?
  • Scientific American, October 2008.
  • Bojowald, Martin. Nature Physics, Vol3, Nº8, pg 523-525; August 2007.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fazendo Ciência

Quem conhece ou segue a carreira acadêmica sabe que esta não é uma das profissões mais "fáceis" que existem, apesar de ser bastante recompensador para quem se identifica com a carreira. Prazos curtos, verbas insuficientes, burocracia intensa e salário insatisfatório são alguns fatores que fazem apenas os mais apaixonados e perseverantes persistirem em fazer Ciência. É claro que existem muitas vantagens na pesquisa, como realização pessoal, amizades internacionais, colaborar para o "avanço" da Sociedade, entre outros.
Como um aspirante a pesquisador, pretendo divulgar brevemente o que eu faço em meu laboratório, qual o meu alvo de estudo e para que ele serve (essa última pergunta geralmente irrita muito os pesquisadores; o avanço do conhecimento já não seria razão suficiente?). A grande verdade é que quase todo pesquisador adora falar sobre o seu trabalho, e eu não sou exceção. Então, vamos lá!

Nas células cujo DNA está em um compartimento chamado núcleo (células eucariontes), existe um grupo de proteínas constatemente interagindo e dobrando o DNA. Essas proteínas chamam-se Grupo de Alta Mobilidade (ou HMG, do inglês High Mobility Group). A proteína que estudo chama-se HMGB1 (é, a ciência é cheia de símbolos esquisitos mesmo). Esta proteína é capaz de dobrar o DNA em um ângulo de até 80º, aumentando a afinidade de outras proteínas com o material genético, podendo aumentar a transcrição, por exemplo. Por isso, a HMGB1 pode ser chamada de fator de transcrição. A HMGB1 (cinza) dobrando o DNA (azul).

A HMGB1 funciona de maneira oposta a um grupo de proteínas muito famoso chamado histonas - cuja função é, entre outras, compactar do DNA dentro do núcleo. Ocorre uma batalha infinita, no qual uma aperta a molécula de DNA, enquanto a outra a separa, tornando-a "frouxa" e possível de ser transcrita. Até o ano de 1999 era mais ou menos isso que se sabia sobre essa proteína. Então, um pesquisador chamado Wang descobriu que essa proteína podia ser "expulsa" para fora da célula, funcionando como uma molécula sinalizadora (citocina). A idéia é a seguinte: Se você encontrar uma proteína que só ocorre no núcleo das células fora delas, quer dizer que algo não está legal; as células podem estar morrendo, fazendo a HMGB1 "vazar" para o sangue. Isso sinaliza para as células do nosso sistema imunológico que algo está matando as células, e essa matança indica que pode estar havendo uma inflamação. A partir dessa descoberta, essa proteína ganhou mais importância - já que ela está envolvida em diversas doenças humanas - e já estão desenvolvendo inibidores de HMGB1 para o tratamento de algumas doenças.
Mas e eu? Dentro desse vasto mundo, o que eu faço? A ciência é construída a partir de pequenos avanços de inúmeras pessoas, ao contrário da idéia de que alguns gênios é que dão passos largos (isso ocorre, mas é bem raro). O que eu faço é estudar os aspectos termodinâmicos e estruturais dessa proteína frente a alguns fatores, como temperatura, pH, uréia e outros. Pretendo me voltar um pouco para a parte biológica (já que serei biólogo ano que vem!) dessa proteína, como o papel dela nas infecções virais e em uma doença grave chamada sepsis.
Nossa, como ficou grande! E eu tentei resumir ao máximo! Na próxima postagem, começarei a adentrar no mundo do Macro do nosso belo e intrigante Universo!
Grande Abraço!

Bibliografia:
  • Wang et. al. (1999). HMG-1 as a Late Mediator of Endotoxin Lethality in Mice.
  • Agresti et. al. (2003). HMGB proteins and gene expression.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O que o Micro&Macro é, e o que não é...


Olá a todos e sejam bem-vindos ao blog. Confesso que raramente entrei em blogs e não sei de onde tirei essa idéia de ter um próprio. Comecei a ler alguns, achei bastante interessante e resolvi me adentrar neste mundo...

Mas surgiu o problema; será que eu posso escrever um blog? Quem sou eu para escrever, que conteúdo eu tenho, sobre o que posso escrever?

Sei que não sou ninguém e que (quase) não tenho conteúdo. Mas também sei que gosto muito do que faço e da área onde isto está envolvido. Resolvi escrever, então, sobre a minha grande paixão: a Ciência. Como estudante de Biologia (Genética), sou fascinado por esse fenômeno tão espetacular quanto improvável chamado Vida, especialmente ao nível do pequeno (micro). Ao mesmo tempo, tenho uma paixão (ainda que amadora) sobre as grandes questões do Universo, das Galáxias e tudo relacionado à esse nível do grande (macro). Então resolvi escrever sobre ambos: Nasce o Micro e Macro blog.

Bom, o já apelidado M&M será um blog onde discutirei (ou discutiremos, caso alguém um dia o leia!) temas relacionados às Ciências da Vida e às Ciências dos Astros. Meu grande objetivo é mostrar o quanto a ciência pode ser fascinante e nos dar respostas sobre (quase) tudo o que nos cerca. Também gostaria de conversar um pouco sobre evolução e tentar passar um conceito mais correto acerca deste tema - afinal, neste ano o grande naturalista inglês Charles Darwin completaria 200 anos. Enfim, sempre estarei aberto a sugestões e disposto a tirar dúvidas sobre os temas relacionados (sempre pesquisando seriamente antes, é claro).

Mas o que este blog não é? Ele não é um local aonde você poderá "copiar e colar" conteúdos para seu trabalho de escola etc. Apesar de buscar escrever sempre baseado em bibliografias confiáveis, certamente este blog não substitui quaisquer livros, artigos ou qualquer pedaço de papel com conteúdo científico confiável. Por isso, sempre haverá uma bibliografia sugerida para que você possa obter informações mais precisas e detalhadas.

Bom, mais uma vez, sejam bem-vindo ao Micro&Macro.